26 dezembro 2007

Novos sabores











































Em se tratando de experiências com alimentos, existem dois tipos de gente: os que adoram experimentar coisas novas e exóticas e os que se prendem às primeiras memórias gustativas e não se atrevem ou possuem verdadeira aversão a degustar qualquer novidade, que à primeira oferta, retrucam com uma careta: “Não gosto disso!”. Eu faço parte do 1° grupo e estou sempre em busca de novos sabores. Humm, e acabo de descobrir que o Davi também é assim. Nada como uma viagem pra aumentar o rol de experiências gustativas. Ah, e quem pensa que pra isso deve-se desembolsar sempre algum dinheiro, engana-se.

Na semana passada fiz uma viagem de volta às minhas origens (fui à cidade onde nasci, e onde meu pai possui uma pequena fazenda). Nada melhor que uma fazenda pra se descobrir os sabores do cerrado. Nossa primeira providência foi fazer um passeio pelo pomar pra conhecer as árvores e colher as frutas direto do pé.

Comer um jambo colhido do pé é fazer aquela viagem no tempo e retornar magicamente aos tempos de menina, levada por uma máquina invisível, mais conhecida como memória gustativa.

E assim o Davi experimentou amora, pitanga roxa, jambo, gabiroba, acerola, manga, jabuticaba e bacupari, e eu recordei os sabores da minha infância.

E tem gente que ainda prefere chupar balinha de fruta artificial...

30 novembro 2007

TEMPO PARTE II: em PAZ com ELE


O TEMPO (ou a falta dele) é um assunto recorrente em minha vida. Eu estou sempre brigando com ele. “Lutando” seria a palavra mais correta, já que se trata de uma Guerra.
Muito da culpa por minha falta de tempo era delegada às intermináveis horas de trabalho que qualquer trabalhador desse nosso século sabe serem necessárias para se construir uma carreira honesta.

Aí veio a surpresa: saí da empresa em que eu trabalhava há quase oito anos e fiquei assim, teoricamente, com todo o tempo do mundo disponível. Logo vislumbrei a possibilidade de idílicas semanas de ócio absoluto.
E, contrariando todas as expectativas... continuei com os minutos contados, acordando às 06:30 todos os dias (isto não é problema pra mim) e seguindo em várias atividades até às 22:30 ou 23:00 h (isto sim é um problema, geralmente me é difícil segurar o sono até mais tarde). Tive mais tempo para o Davi, mas longe de serem aquelas horas infinitas que eu havia imaginado.

Quase um mês assim me deixou um belo presente: descobri que pra quem gosta de atividade, não importa muito trabalhar fora ou não, o tempo sempre será curto pra ler todos os livros que você quer ler, participar de todas as brincadeiras com seu filho, dar aquele “jeito” nos armários e nas gavetas, explorar novas possibilidades de trabalho, dedicar-se a seus vários hobbies, dar atenção especial às pessoas queridas, etc.
Então, veio o alívio. E a lição: não se culpe tanto! Faça o que dá pra fazer! Viva o que dá pra viver! E perdoe-se pelo que você deveria ou gostaria de ter feito, mas foi impedida pela falta de tempo.

18 novembro 2007

É pra comer ou pra passar no cabelo?





























Seu Luziano é uma figura bem conhecida na região que engloba os bairros de Lourdes, Filostro e Jóquei, em Anápolis. Possui uma profissão que nas grandes cidades já está extinta, mas sobrevive, ainda que tropegamente, no imenso interior do Brasil: ele é leiteiro. Acorda, todos os dias, às 05:00 h da manhã para que o leite chegue ainda cedo à sua clientela. A visão de sua passagem é como retroceder trinta anos no tempo: ele usa a tradicional charrete puxada por um cavalinho velho, o chapéu surrado, a buzina estridente que denuncia sua presença e o acompanha o característico chacoalhar das latas de alumínio que levam o leite. Exerce seu trabalho há quase 50 anos, de segunda a segunda, faça sol ou faça chuva. O único dia do ano em que se permite fugir da rotina diária é na sexta-feira santa.

Há uns três meses Seu Luziano teve sua profissão difamada na televisão. É que a associação das indústrias de leite longa vida patrocinou uma propaganda para desestimular as pessoas a consumirem o produto vendido pelos leiteiros. A propaganda era bem explícita, com as pessoas passando mal e depois, revoltadas, quase “linchando” o pobre leiteiro, que fugia, com os clientes furiosos no seu encalço.

A campanha só esqueceu-se de mencionar o quão prejudicial pode ser também o consumo dos leites longa vida.

Sem querer aqui defender a inocuidade e segurança de um ou outro tipo de leite, o que fica evidente é que o consumidor brasileiro tem estado quase “solitário” na incerta tarefa de escolher a qualidade dos produtos que vão à sua mesa. Faz-se urgente uma atenção maior do governo aos órgãos fiscalizadores de alimentos, que estão, na maioria dos estados, com déficit de gente. Tampouco acho que isto seria a solução de todos os problemas. O problema não existiria se não houvesse, por parte de alguns empresários, o apelo pelo lucro fácil e barato. Aí a questão transpõe a esfera pública e passa a ser de cunho moral.

Um dia é o leite, outro dia o queijo, aí vem a carne bovina, enfim, uma novela em que a cada capítulo um alimento inadequado conquista sua fama temporária.

Para este caso cabe aquela velha pergunta de quem desconhece o significado de uma palavra: “_É pra comer ou pra passar no cabelo?”. No caso do leite contaminado com água oxigenada, a resposta, trágica, poderia ser: “Teoricamente pra beber, mas é melhor usá-lo mesmo pra descolorir os cabelos!”.

28 outubro 2007

Festa do 12 em Ouro Preto

Homenagem aos ex-alunos, no palco da Boite Casablanca.






Toda vez que vou à Ouro Preto dou uma passadinha no Café Gerais.























D. Bibi era uma septuagenária cujo endereço, na Rua São José, da histórica Ouro Preto, ficava do lado direito da República Boite Casablanca, onde moravam rapazes estudantes da UFOP, que representavam, acima de tudo, o espírito da juventude “sexo, drogas e rock’in roll”. Esta vizinhança heterogênea deu origem a muitos boatos e histórias, por parte dos moradores dos dois casarões. Conto aqui a versão dos Casablanquenhos boêmios que lá estudaram no início dos anos 90. Alguns anos antes, quando chegou à República o estudante de engenharia Messias (logo rebatizado de Babá, um ritual obrigatório pra quem almeja uma vaga na casa), foi informado de que ali do lado, naquele casarão centenário de três andares e aproximadamente 30 cômodos, moravam duas velhas bruxas, e era bom não se meter muito com elas, o que poderia resultar em encrenca certa.

Um dia um episódio o fez pular o muro e enfrentar toda a sorte de feitiços e encantamentos malignos que pairavam sobre o casarão misterioso. É que sua placa de “Bicho” (que consiste em uma placa de mais ou menos 1m x 1m que todo aspirante à vaga em república tem que levar preso ao pescoço, caso contrário é impedido até de entrar no restaurante universitário), foi lançada, por um veterano perverso, no quintal das vizinhas. Não tinha jeito, era pegar ou morrer de fome, alem de ser rejeitado como morador da república.

Precipitou-se então pelo muro, tentando localizar, o mais rapidamente possível, seu passaporte de sobrevivência. Logo o localizou, pulando o muro e correndo, torcendo para que a empreitada tivesse um fim rápido e sem surpresas. Quando se levantou, com a placa na mão, girando-se rapidamente para retornar, em segurança, ao outro lado do muro, seu corpo foi de encontro àquela figura e, de susto, desequilibrou-se e caiu no chão. Em pé, em sua frente, quase tão imóvel quanto a estátua de Tiradentes da praça de nome idem, D. Bibi tinha o olhar curioso e jovial de qualquer vovó de contos da carochinha.

Nascia ali uma amizade rica e duradoura. E principalmente de ajuda e aprendizagem. Os rapazes Casablanquenhos passaram a ter um telefone, a disposição, ao qual os parentes podiam ligar, para saberem notícias. Uma campainha cujo interruptor foi instalado junto ao telefone do casarão, avisava, através de código Morse, qual estudante era solicitado ao telefone. Desta forma, D. Bibi ficou conhecendo o Feio, o Colméia, o Almenas, o Barango, o Ligeirinho, o Nádegas e o Ninguém, assim como todos os moradores que vieram a habitar a Casablanca. Num dia em que ladrões ameaçaram a segurança das senhoras, os rapazes se revezaram durante alguns dias dormindo na casa das vizinhas, até que elas se sentissem seguras novamente. Muitas vezes o Ligeirinho foi até lá ajudá-la quando alguma gripe forte ou infecção à levava pra cama. Quando Babá se formou, o cenário casablanquenho não se parecia em nada com o de qualquer festa já vista ali, geralmente com torres de engradados de cerveja, churrasco e música alta. Em meio a tudo isto um quê de festa de casamento, dado pelas 15 bandejas de bombons, presente da D. Bibi.

Todo 12 de outubro a República Boite Casablanca, assim como todas as outras repúblicas Ouropretanas, faz 3 dias de festas e homenageia seus ex-alunos com presentes e discursos, em uma tradição que os faz sempre reencontrar esta parte de sua história. Neste ano, no meio de aproximadamente 70 quadrinhos de formandos que adornam as paredes da Boite, e de agora em diante, uma única mulher ganhou o título de Casablanquenha. Com seu sorriso belo que faz qualquer marmanjo querer voltar à infância pra ganhar um doce ou um colo, a República passou a receber, todos os dias, a bênção de D. Bibi.








09 outubro 2007

A vida como ela é

Primeiro, foi a esposa que cismou que queria uma esteira. O marido lastimou a infeliz hora em que perguntou o que ela gostaria de ganhar de aniversário. A resposta foi incisiva: _Quero uma esteira! Já que eu não tenho tempo de ir à academia, quero me exercitar aqui em casa mesmo.

Logo veio o veto do marido: _Peça qualquer coisa, menos uma esteira. Seja razoável, não há lugar aqui em casa para colocar esta coisa horrorosa. E além do mais, eu nunca conheci uma casa onde a esteira não tenha se transformado em cabideiro. E o discurso continuou por mais algumas horas. Nesta noite, a esposa, indignada, dormiu a uma boa distância do marido, murmurando impropérios e se perguntando: _ Por que esta criatura perguntou o que eu quero ganhar, se não tinha a intenção de me dar o que eu queria?

Uma semana depois, foi a vez do marido cismar com a cachorrinha. Chamou, todo feliz, a esposa, para que ela visse na tela da internet a raça que havia escolhido para presentear o filho. Aí já era demais! Na casa de 200m² não havia espaço para uma inofensiva esteira, mas para uma cachorra endiabrada e destruidora, NÃO HAVIA PROBLEMAS! E ainda por cima a bichinha tinha cara de morcego. Quando fez a primeira objeção, o marido interveio caloroso em defesa da cachorra. _Ora, essa cara de morcego é sinônimo de pureza da raça! Aliás, quanto mais parecida com morcego, mais caro é o filhote.

A esposa, que já não estava lá essas coisas com o marido, resolveu lembrá-lo da primeira vez em que ele tinha tido a idéia de ter um cachorro. Fazia apenas três anos, mas parecia que ele já havia se esquecido. Esquecera-se de que ele nunca queria sair com o animalzinho pra passear e que ele nunca havia limpado o cocô que o animal deixava pelo quintal. Também se esquecera de que quando solto, aquele filhotinho fofinho havia destruído todo o jardim. E a esposa, já vislumbrando o mesmo “filme” e sabendo da teimosia do marido, resolveu tirar proveito: _Está bem, mas só aceito esta cachorra se eu puder instalar minha esteira, e no quarto! E o marido: _No dia em que eu ver uma roupa pendurada na esteira, tchau, tchau! E a esposa: _ O dia em que você deixar de limpar o cocô desta cachorrinha, eu a darei para a primeira pessoa que aparecer.

E assim é que chegaram a casa suas duas novas moradoras: Ivete (a esteira) e Fiona (a cachorra com cara de morcego). Foram duas idílicas semanas, em que esposa se imaginou transformada na própria Ivete (Sangalo), e que o marido dedicou todo seu tempo livre para passear e cuidar da Fiona (que realmente era quase um ogro).

Mas passado o entusiasmo inicial, a esteira começou a ficar cada dia mais pesada. E a cachorrinha, coitada, já não ganhava tanta festa à noite, quando o marido chegava do trabalho.

Um mês, e a esteira tinha se transformado num belo depósito de bolsas. E Fiona, pobrezinha, tinha deixado de passear e andava meio tristinha. Desta vez, não houve nenhuma discussão naquela casa. Foi de comum acordo que esposa e marido providenciaram a doação da esteira para um asilo e da cachorrinha para uma senhora que adorava cachorros e criava três outros em sua casa. E nunca mais se falou naquele assunto.

27 agosto 2007

Feedback

O que de mais importante eu aprendi


Na maior parte do tempo me sinto uma pessoa que ainda tem tanto a aprender, que apenas engatinho, como um bebê, na busca pelo saber. Deixo claro que não me refiro a este saber teórico, técnico ou puramente mental. Falo do conhecimento da vida, da sabedoria natural, atemporal, que independe dos anos em que alguém passou sentado num banco de escola.

Desde que a humanidade incorporou a forma Aristotélica de segregar as diferentes áreas de aprendizagem, tornando-as imiscíveis ao longo do tempo, começamos a criar homens com profundo conhecimento e grandes habilidades técnicas, mas completamente vazios de ética, incapazes de relacionar todo seu conhecimento com nosso mundo e de usar este conhecimento para melhorá-lo.

Hoje é uma heresia dizer que ciência e religião poderiam e até deveriam andar juntas, assim como era na Grécia Áurea de Platão. Sei que esta frase vai chocar muita gente, e que eu corro um sério risco de ser taxada de louca, querendo misturar água e óleo. Bem, corro este risco e digo que sobre isto não darei maiores explicações. Quem sabe em outro post?

Pensando sobre o que de mais importante eu aprendi, me vêm à mente duas coisas: a primeira, é a de querer buscar e viver esta sabedoria, e conhecê-la um pouco mais a cada dia. A segunda, que advém da primeira, é dar mais valor à minha intuição, e quebrar o preconceito que esta palavra carrega hoje em dia, muito pela dificuldade que há em explicá-la “cientificamente”.

Este post foi escrito a pedido da Mélica. Não é uma blogagem coletiva e nem uma meme. Ela escolheu algumas pessoas pra refletirem sobre o assunto e o transfomar em post. Quem quiser também fazer esta experiência, deixe um recado aqui pra gente poder conferir o resultado.

21 agosto 2007

O esoterismo dos Contos de Fadas

Esta semana assisti “O LABIRINTO DO FAUNO”. Foi para mim uma história tão linda que suplantou o cenário triste e violento da Guerra Civil Espanhola e do drama vivido pela pequena Ofélia, a protagonista.

O filme tem todos os ingredientes necessários a um bom Conto de Fadas. Um conto de fadas dirigido ao público adulto, mas que faz-nos nostalgicamente retroceder no tempo e vivenciar esse universo mágico e rico que é o imaginário infantil.

Os contos de Fadas tradicionais foram transmitidos oralmente por várias diferentes culturas, e foram compilados e publicados pela primeira vez pelos irmãos Grimm em 1786. Dizem que eles saíam pelo interior da Alemanha e outros países da Europa, perguntando sobre pessoas que sabiam e contavam histórias para crianças. Diz-se que uma certa vez, descobriram uma senhora, já bem velhinha, que sabia muitos contos infantis antigos, e aceitou contar-lhes todos, contanto que os mesmos a visitassem todas as tardes para um chá. E assim foi feito. A cada tarde a senhora contava aos Irmãos Grimm, que anotavam palavra por palavra, muitas das histórias que hoje lemos aos nossos filhos.

Hoje se sabe que todos estes contos tradicionais baseiam-se em mitos mais antigos ainda, e possuem uma interpretação profunda, que representa o próprio caminhar da humanidade, a própria existência humana.

Os vilões, bruxas e criaturas do mal, por exemplo, representam as dificuldades e percalços que temos que enfrentar ao longo de nossa vida.

As fadas-madrinhas, gênios e outros personagens que sempre ajudam os heróis são os próprios poderes latentes do homem e a própria natureza, que põem-se em marcha, despertados pela vontade e coragem destes heróis diante dos problemas.

O “e foram felizes para sempre” não é uma visão míope e boba do amor romântico, mas a descrição do momento em que o homem vence seus próprios defeitos e apossa-se do que tem de mais puro e belo: sua alma.

Pensando bem os Contos de Fadas não deveriam ser lidos só pelas crianças, mas, principalmente por nós, adultos. Seria uma forma de nos lembrar que, SIM, vale a pena ser honesto, fazer o bem, ajudar, embora tudo a nossa volta dê a impressão de que seja exatamente o oposto.

04 agosto 2007

Manhã de praia

Na terceira manhã de praia, fazia um tempo meio indefinido no litoral pernambucano. Um sol que não se decidia entre brilhar ou esconder-se irremediavelmente por trás de uma série de nuvens cinza chumbo que se aglomeravam a partir de um ponto distante no mar. Eu e Davi, animadíssimos como só uma legítima mineira e seu bem criado rebento goiano diante de tudo o que aquilo representava: brincadeiras, risadas, mergulhos, caça às conchas, castelos, pular ondas... Deste modo não seria um insignificante dia nublado de junho que iria estragar nosso programa.

E tudo parecia caminhar conforme nossa alegre previsão, não fosse por um detalhe. É que o “inverno” de 26°C do nordeste, além das chuvas, trás também muitas águas-vivas que invadem a areia com o vai e vem das ondas. E não sei o porquê, mas nessas ocasiões, os alvos são invariavelmente as crianças.

Dito e feito, na primeira corrida na beira d’água as bichinhas pegaram o Davi em cheio.
Um grito de dor e o choro doído fizeram-me disparar atrás de algum socorro. Deixei-o em um banquinho na beira da praia, o peito do seu pé esquerdo vermelho e inchado. Eu não fazia idéia de qual medicamento aliviaria aquela queimadura, mas com certeza o pessoal do hotel saberia me ajudar. Logo em frente me deparei com um dos funcionários do hotel. O infame, além de não saber de remédio algum, disse que iria procurar ajuda e desapareceu. Eu corri para a recepção do hotel. A recepcionista mandou-me pra gerente. A gerente desculpou-se, dizendo que com freqüência aconteciam casos semelhantes, mas não havia nenhum tipo de remédio na caixa de medicamentos do hotel e também não sabia dar nenhuma orientação.
Voltando à praia, algumas crianças da região se aproximavam do Davi, e uma delas me disse: “_Dona, joga vinagre que a dor passa!”
Peguei Davi no colo, ainda aos prantos, e fui direto para a área onde estavam servindo o café.
“_Dona Antônia, por favor, pegue um pouco de vinagre na cozinha, para eu tratar uma queimadura de água-viva”-pedi à senhora que fica preparando as tapiocas para os hóspedes.

Quando joguei o vinagre na queimadura, imagino que foi como tirar a dor com as mãos. Um minuto e o Davi já corria pra piscina.Mesmo aparentemente bem, resolvemos levá-lo a um posto médico, na vila de Porto de Galinhas, que ficava a uns 5 km do hotel.

O médico explicou que, nestes casos, o único procedimento é lavar com ácido acético (que é o nome químico do vinagre). O veneno da água-viva, que é alcalino, neutraliza-se na presença do ácido. Voltei pro hotel bendizendo a sabedoria popular daqueles moleques. Não é à toa que em minhas viagens de férias um dos meus maiores prazeres é conversar com as pessoas da região, aprender um pouquinho sobre a cultura e como levam a vida. Essa parte da viagem é para mim das mais interessantes, apesar de não estar escrita em nenhum guia de viagem.

De volta ao hotel, fui até a praia agradecer àquele menino, mas, assim como as nuvens de chuva, ele desaparecera e só havia ali aquela imensa praia deslumbrante e deserta.

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Eu, lagarteando na beira da praia, percebi várias pessoas comendo uma espécie de lagosta. Mania que eu tenho é essa de querer experimentar tudo o que eu não conheço. Fizemos sinal pro vendedor.
“ _E aí, vai uma porção de lagostinhas?Aproveita que o preço tá bom....
“ _Quanto é, moço?
“ _ Olha, são 10 lagostinhas por R$40,00. No restaurante do hotel você paga 60, mas só vem 4. Eu faço R$40,00 pra vocês, mas pros argentinos ali, ó, eu vendo por R$50,00. Gringo paga mais caro...

31 julho 2007

Sumiço

Eu ando em falta com o blog, eu sei. Na verdade, tô com muita vontade de escrever, mas tenho trabalhado demais e nos últimos dois meses viajei muito (a trabalho e passeio) e recebi muitas visitas em casa.

Quando escrevo um post levo certo tempo, não sou nem um pouco rápida! Tenho várias coisas em mente pra escrever, mas nunca tive tão pouco tempo. Não consegui nem visitar meus blogs preferidos. Por isto estou voltando, mas ainda sem posts. É só mesmo pra espiar e matar as saudades lendo um pouquinho vocês...

Beijo a todos!

10 junho 2007

LUXO, CHIQUE, GLAMOUR e outras futilidades...



Tenho andado por aí lendo e ouvindo, em vários lugares, o que é Luxo, o que é chique, o que é in. Por estas andanças, concluí que se há uma coisa absolutamente relativa conceitualmente, é exatamente o Luxo.
É comum que o tempo e o uso alterem o sentido das palavras. A bem da verdade, hoje em dia, muitas palavras já estão tão desgastadas e deturpadas que perderam seu significado original. Incluo o Luxo neste pacote. Além do mais, o conceito de Luxo vai se alterando conforme um bem se populariza ou seu acesso se torna mais fácil. O açúcar era um item de luxo quando foi descoberto. Mais ou menos o equivalente a um quilo deste pó, em sua época áurea, valia 11 moedas de ouro, ou dois bois gordos. Por causa disto o que é LUXO hoje pode ser LIXO amanhã, e o que é LUXO para alguns já é considerado LIXO pra outros.

Tem muita gente aí fazendo tudo pra aparecer nas colunas sociais ou nas Caras e variantes que existem por aí. Na opinião de Guilhermina Guinle, que costumava, quando criança, correr de triciclo pela suíte presidencial do Copacabana Palace (que foi construído pelo seu avô) CHIQUE mesmo é não aparecer em nenhuma dessas colunas. Fico imaginando essas pessoas do high society horrorizadas em serem fotografadas ao lado de uma celebridade instantânea, que gafe!!!!

Muita gente acha o máximo desfilar com uma bolsa Louis Vuitton falsificada. Dá pra entender? Claro que sim. Estamos na era das aparências. Ninguém mais precisa SER. Basta ESTAR. Basta PARECER.
Chique pra mim é ser autêntica. Assumir o que gosta, sem, obviamente, agredir outras pessoas.

Há pessoas que bebem vinho porque hoje em dia entender de vinho é muito chique (???). Aí vêm outras pessoas cheias de “estilo” e dizem que é o cúmulo do brega conversar e discutir sobre vinhos. Eu bebo vinho há mais de dez anos. Gosto, particularmente, dos Espanhóis, da região de Rioja. Gosto de outras variedades que vão da Argentina à França. Procuro entender e conhecer porque a partir do conhecimento posso apreciar sensorialmente ainda mais a bebida. Não discuto muito o assunto porque esse assunto só é bom para enófilos. E, realmente, para quem não gosta tanto assim de vinho, deve ser um verdadeiro porre ficar ouvindo sobre o aroma empereumático ou discutindo sobre o tamanho das perlages de um espumante. Por isso sou uma bebedora solitária. Nem sempre tenho o LUXO de ter uma companhia que aprecie esta bebida. Torço mesmo para que o vinho continue “na moda”, pois assim aumento minhas chances de convidar e ser convidada pra beber vinho.

E a moda segue, cheia das suas regras, exclusões e mesmo seus fanatismos. Andar na moda, hoje em dia, não é mais para poucos, apesar de nunca haver tanta gente mal vestida pelas ruas.

Num programa da Leda Nagle ela dizia que LUXO para a classe média das grandes cidades é ter TEMPO e COMIDA FRESCA (entendendo-se por comida fresca aquela fruta que você colhe diretamente na árvore, a galinha que você escolhe no viveiro antes de ir pra panela, o doce de leite feito com o leite que acabou de ser tirado da vaca, e a salada que você faz colhendo os legumes na horta. Em suma, comida caseira, com tempero que não enjoa, sem aditivos, agrotóxicos, hormônios, gordura trans e todas estas porcarias que a gente come todos os dias.

Todas as modas, modismos, luxos e mimos são sintomas de doença para o Professor Hermógenes, o mais antigo professor brasileiro de Yoga. Esse velhinho simpático, muito carismático e cheio de energia, diz que o mundo está sofrendo uma grande enfermidade nesta busca incessante da "felicidade" através do materialismo e identificação a estereótipos. E ele deixa seu recado para que alcancemos a verdadeira felicidade: DES-ILUDAM-SE!













02 junho 2007

O Jardineiro Fiel

Flor de Maio


14 (Pablo Neruda - Veinte poemas de amor y una canción desesperada)


Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.

A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con letras de humo entre
las estrellas del sur?

Ah déjame recordarte como eras entonces, cuando
Aún no existías.

De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana
Cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.


Pasan Huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo solo puedo luchar contra la fuerza
de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron
al cielo.


Tú estás aquí. Ah tú no huyes.
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña
por tus ojos.

Ahora, ahora también, pequeña, me traes
Madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.

Cuánto te habrá dolido acostumbrarte a mí,
A mi alma sola y salvaje, a mi nombre que
todos ahuyentan
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos
Los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos
en abanicos girantes.
Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.

Quiero hacer contigo
Lo que la primavera hace con los cerezos.



Cantinho do tronco deitado
_____

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade




Esta pérgula tem bougainville e uma outra trepadeira que ainda estão crescendo...

















Cantinho com pedras e orquídeas
Amar
Carlos Drummond de Andrade
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.











Há algum tempo comecei a fotografar algumas flores do jardim de casa pensando em fazer um post mostrando o trabalho dedicado e bonito que o Gustavo faz aqui. Mas como o jardim ainda está inacabado, pensava em esperar seu término para publicar as fotos. Aí vi o post da Geórgia, mostrando exatamente o passo a passo da construção de seu jardim, que aliás está ficando lindíssimo. E decidi postar minhas fotos, mesmo com o jardim em construção!
Este post (e os poemas) são de dicados ao Gu...


24 maio 2007

Questionário de Proust



Recebi da Fernanda o Questionário de Proust para responder. Assim como ela, me diverti respondendo-o. Para quem quiser conferir, aí está:


1. Qual é a sua maior qualidade? Saber ouvir, procurar me colocar no lugar das pessoas quando estou diante de um conflito.

2. E seu maior defeito? Vale falar aqueles defeitos clichês de entrevista de emprego, tipo:”sou muito perfeccionista”? Hahahaha! Bom, um defeito ruim que me afasta de muitos amigos é a timidez, ela faz-me afastar de pessoas que gosto quando acho que fui magoada. Na verdade é um tremendo complexo de dondoca...

3. A característica mais importante em um homem? O caráter.

4. E em uma mulher? O Amor, mas não no sentido atual, em que esta palavra foi desvirtuada e não possui mais seu sentido original. Não esse amor romântico, sinônimo de possessão, orgulho, amor que barganha. Mas o Amor no sentido de doação, de não-interesse, de abnegação, generosidade.

5. O que você mais aprecia nos seus amigos? A intimidade de poder falar tudo o que eu penso sem me preocupar em ser mal interpretada.

6. Sua atividade favorita é... Ler é uma delas, mas se for definir todas em uma só seria aprender.

7. Qual a sua idéia de felicidade? É ser dona de mim, isto é, ter a convicção de que só depende de mim a postura como encaro a vida.

8. E o que seria a maior das tragédias?Ai, isto eu não falo porque tenho a superstição de que posso atrair.

9. Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?Como poderia saber? É difícil conhecer as pessoas, se são ou não felizes e que vantagem eu teria em ser essa outra pessoa que eu não conheço a fundo.

10. E onde gostaria de viver. Em Minas, como boa mineira que sou.

11. Qual sua cor favorita? Não tenho uma, depende do momento e ocasião.

12. Uma flor: Flor de maio.

13. Um pássaro: Canarinho, desde que fora da gaiola, pois odeio passarinho preso.

14. Seus autores preferidos: Mario Vargas Lhosa, Milan Kundera, Ernest Hemingway.

15. Os poetas que mais gosta? Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa.

16. Quem são seus heróis de ficção? Esta foi uma pergunta que eu não sabia responder de pronto: Volverine, de X-Men.

17. E as heroínas na ficção? Não sei se posso enquadrá-la como heroína: é Morgana, da lenda do Rei Artur.

18. Seu compositor favorito é…Gosto de Caetano, Chico Buarque, Djavan, Milton Nascimento. Não tenho um favorito.

19. E os pintores que você mais curte? Sou mais ligada em escultura que em pintura, por isto vou listar primeiro meus escultores: Rodin e Giacometti. Na pintura, Velásquez e Gustav Klimt.

20. Quem são suas heroínas na vida real?São todas as mulheres que trabalham duro pra sustentar os filhos, sofrem preconceitos e todo tipo de injustiça, e nem por isto perdem a coragem e a dignidade diante da vida.

21. E quem são seus heróis? São todos aqueles que dedicam todo ou parte de seu tempo para uma causa humanitária, sem almejar nada em troca (porque o que não falta hoje em dia é gente boazinha cheia de segundas intenções).

22. Qual sua palavra favorita? Nos últimos tempos, é SABEDORIA.

23. O que você mais detesta? É violência contra crianças.

24. Quais são os personagens históricos que você mais despreza? Em primeiro lugar os ditadores e em segundo os populistas.

25. Quais dons naturais você gostaria de possuir?Uma voz maravilhosa, acho que isso estaria de bom tamanho, rsrsrs.

26. Como você gostaria de morrer? Naturalmente, sem conseqüência de doença ou acidente.

27. Qual seu atual estado de espírito? De questionamento e contemplação diante da vida.

28. Que defeito é mais fácil perdoar? Os que já identifiquei em mim mesma.

29. Qual é o lema da sua vida? É a frase do Oráculo de Delfos: “Conheça-te a ti mesmo”.

Queria convidar a Vivien e a Thelma pra responder o Questionário.

Encontrei no blog das Mineiras, Uai! as perguntas respondidas pelo escritor francês que acabou batizando o Questionário. Vale a pena conferir:

"Proust respondeu ao mesmo questionário duas vezes na vida, a primeira quando era menino, aos treze anos de idade, e outra, já um rapaz de vinte anos, quando servia o exército francês. As respostas do gênio da literatura francesa tornaram o modelo de questionário tão famoso que virou uma espécie de padrão até de entrevistas jornalísticas! Hoje, o pouco que se sabe da vida pessoal de Proust foi praticamente “deduzido” dos questionários respondidos, reencontrados pelo filho da prima Antoinette, e publicados em 1924. Através do questionário, pode-se conhecer bastante da personalidade e das aspirações do escritor."

Respostas do Proust aos 13 anos

What do you regard as the lowest depth of misery?
To be separated from Mama
Where would you like to live?
In the country of the Ideal, or, rather, of my ideal
What is your idea of earthly happiness?
To live in contact with those I love, with the beauties of nature, with a quantity of books and music, and to have, within easy distance, a French theater
To what faults do you feel most indulgent?
To a life deprived of the works of genius
Who are your favorite heroes of fiction?
Those of romance and poetry, those who are the expression of an ideal rather than an imitation of the real
Who are your favorite characters in history?
A mixture of Socrates, Pericles, Mahomet, Pliny the Younger and Augustin Thierry
Who are your favorite heroines in real life?
A woman of genius leading an ordinary life
Who are your favorite heroines of fiction?
Those who are more than women without ceasing to be womanly; everything that is tender, poetic, pure and in every way beautiful
Your favorite painter?
Meissonier
Your favorite musician?
Mozart
The quality you most admire in a man?
Intelligence, moral sense
The quality you most admire in a woman?
Gentleness, naturalness, intelligence
Your favorite virtue?
All virtues that are not limited to a sect: the universal virtues
Your favorite occupation?
Reading, dreaming, and writing verse
Who would you have liked to be?
Since the question does not arise, I prefer not to answer it. All the same, I should very much have liked to be Pliny the Younger.


Respostas do Proust aos 20 anos

Your most marked characteristic?
A craving to be loved, or, to be more precise, to be caressed and spoiled rather than to be admired
The quality you most like in a man?
Feminine charm
The quality you most like in a woman?
A man's virtues, and frankness in friendship
What do you most value in your friends?
Tenderness - provided they possess a physical charm which makes their tenderness worth having
What is your principle defect?
Lack of understanding; weakness of will
What is your favorite occupation?
Loving
What is your dream of happiness?
Not, I fear, a very elevated one. I really haven't the courage to say what it is, and if I did I should probably destroy it by the mere fact of putting it into words.
What to your mind would be the greatest of misfortunes?
Never to have known my mother or my grandmother
What would you like to be?
Myself - as those whom I admire would like me to be
In what country would you like to live?
One where certain things that I want would be realized - and where feelings of tenderness would always be reciprocated. [Proust's underlining]
What is your favorite color?
Beauty lies not in colors but in thier harmony
What is your favorite flower?
Hers - but apart from that, all
What is your favorite bird?
The swallow
Who are your favorite prose writers?
At the moment, Anatole France and Pierre Loti
Who are your favorite poets?
Baudelaire and Alfred de Vigny
Who is your favorite hero of fiction?
Hamlet
Who are your favorite heroines of fiction?
Phedre (crossed out) Berenice
Who are your favorite composers?
Beethoven, Wagner, Schumann
Who are your favorite painters?
Leonardo da Vinci, Rembrandt
Who are your heroes in real life?
Monsieur Darlu, Monsieur Boutroux (professors)
Who are your favorite heroines of history?
Cleopatra
What are your favorite names?
I only have one at a time
What is it you most dislike?
My own worst qualities
What historical figures do you most despise?
I am not sufficiently educated to say
What event in military history do you most admire?
My own enlistment as a volunteer!
What reform do you most admire?
(no response)
What natural gift would you most like to possess?
Will power and irresistible charm
How would you like to die?
A better man than I am, and much beloved
What is your present state of mind?
Annoyance at having to think about myself in order to answer these questions
To what faults do you feel most indulgent?
Those that I understand
What is your motto?
I prefer not to say, for fear it might bring me bad luck.

13 maio 2007

Quando não estou blogando...

Por indicação da Babs (e bem atrasada na brincadeira) estou listando o que faço de diferente quando não estou blogando...
Bem, como minha vida é mais básica que exótica, vou listar o que eu faço por prazer, ou hábito, mesmo que não seja assim, tão diferente:

1) Ficar matutando. Óbvio que todo mundo está sempre pensando em alguma coisa o tempo todo, mas eu sou uma "cismadeira de carteirinha". E 90% das vezes estou pensando sobre, como diria egoisticamente Marisa Monte, meu universo particular. Foi de tanto "cismar" que eu desenvolvi o 3º hábito desta lista. Antes dele, vou dizer a segunda coisa que eu mais faço, além de pensar, pensar, pensar...

2) Ler. Leio tudo o que meus olhos captam como código linguístico. A começar por livros ( os últimos que li foram O caçador de Pipas e O Historiador). Revistas, são de todos os tipos: tradicionais, alternativas, de decoração, viagem, notícias, moda, fofoca, filosofia, gibi. Se estou no banheiro, leio as fórmulas de todos os xampus, cremes, cosméticos (pelo menos tenho a desculpa de ser farmacêutica, rsrs). Se estou esperando o Gu dentro do carro e não tem nenhuma revista ou livro por lá...ataco o manual do carro mesmo. É meio doentio.

3) Estudar filosofia. A essas alturas quem não me conhece deve estar me achando uma chata, né? O consolo é que eu sou caladinha pra essas coisas, não acho que eu devo compartilhar meus devaneios com as outras pessoas, só se me pedirem!

4) Me aventurar na cozinha. Definitivamente não tenho o dom de cozinhar, mas tem alguns pratos com os quais eu engano bem. Algumas coisas são realmente difíceis de fazer, e aqui em casa o chef é o Gustavo. Segundo ele, pra eu acertar a receita de pé de moleque, ele sofreu como cobaia nas dez primeiras vezes (exagero, mas confesso que errei feio nas três primeiras).

5) Brincar com meu filho. Quando chego em casa do trabalho, antes de qualquer lazer ou obrigação, vou brincar com ele. De empurrar no balanço, brincar na caixa de areia, montar trenzinho, contar histórias. Ou simplesmente assistir desenho.

6) Assistir filmes com o Gustavo. Esse é um programa que eu adoro! Depois do nascimento do Davi, tivemos que trocar o cinema pela locadora. Mas sabe de uma coisa: é muito bom assistir um filme bem agarradinha com ele no sofá.

Bom, esta é minha pequena lista atualizada. Algumas coisas que eu fazia antes de ter o Davi, estão cada vez mais difíceis de retomar. Uma delas é o Yôga que eu adorava fazer. Outra que eu não faço mais, mas foi ótimo parar, é assistir TV!

Gostaria de passar esta brincadeira para:
Fernanda
Mel

27 abril 2007

Sobreviveríamos sem humor?

O humor é uma arma para se usar contra as hipocrisias do cotidiano.

O humor nos resgata um sopro de dignidade frente à nossa miserável condição humana. Essa condição de seres ignorantes tentando entender qual o sentido da vida.





Nunca havia lido ou visto algo relacionado à piada na religião, até me deparar com esta foto de uma gárgula presente em uma Catedral Alemã. A arquitetura gótica e a data da construção (séc. XIV) me levaram a pensar sobre como o humor era tratado na Idade Média. Pesquisando o assunto, percebi o quanto a maioria das pessoas são ignorantes em relação a esta época histórica, por imaginá-la um perí­odo desprovido de humor. Descobri que, muito pelo contrário, até pela influência do cristianismo, era um tempo onde havia um grande palco para o riso. O bom humor foi incentivado por ninguém menos que São Tomás de Aquino, em seu "Tratado sobre o Brincar", no qual ele trata o "Brincar" como uma virtude, necessária ao descanso da alma. O Tratado em si é uma análise dos escritos de Aristóteles em "Ética a Nicômaco", e na verdade São Tomás pouco acrescenta aos dizeres do filósofo grego, que também se interessou pelo tema. Voltando à foto, gostaria de ser historiadora para tentar entender o contexto que fez com que esta gárgula em posição constrangedora fosse escolhida para enfeitar o telhado de uma catedral famosa. Mas devido aos meus limitados conhecimentos de história, fico com as suposições propostas pela REVISTA MONDANA, as quais podemos ler na própria foto.





*:Sobre o humor na Idade Média: Luiz Jean Lauand



**Revista Mondana: Publicação sazonal da Editora Idéias Bizarras, de Belo Horizonte (infelizmente, não pude saber se a revista ainda existe, eu acho que foi extinta). Esse único exemplar - do verão de 2006 - que li de cabo a rabo, achei espetacular.

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Em tempo, a transcrição da revista:
"Uma das gárgulas mais controversas de que se tem notícia está na Catedral de Freiburg Münster, na Alemanha. Ao invés de cuspir água pela boca, a escultura proporciona o escoamento pelo ânus. A peculiaridade nos faz pensar: (1) a gárgula estaria nesta posição comprometedora com a intensão de expulsar de forma mais explícita o "mal" para fora da igreja? ou (2) seria uma vingança do escultor pelo atraso no pagamento dos serviços?"

20 abril 2007

Tempo



Hoje é sexta-feira, e assim como em todas elas, além da agradável perspectiva do final de semana, chega-me a conhecida sensação de que a semana se passou em um flash.
Há muito o Tempo tornou-se para mim, literalmente, a encarnação do deus Cronos, aquele que dá a vida a seus filhos para em seguinda devorá-los avidamente.

É fato que principalmente com as teorias de Einsten, o Tempo deixou de ser referido apenas como uma grandeza exata e passou também a ser compreendido em sua dimensão psicológica, ou relativa.Outro dia o filho de uma amiga perguntou a ela: “Mãe, é impressão minha ou o tempo aqui na fazenda passa muito mais devagar?” Minha amiga, que é apicultora, respondeu, paradoxalmente, que o tempo lá passava infinitamente mais rápido que na cidade, devido às suas tantas atividades.

Dizem que esta sensação de que a semana, o mês e até o ano acabaram e a gente não os “viu” passar é uma característica de épocas (ou eras) difíceis.
Confesso que sofro não só deste mal relacionado ao tempo, mas de outro ainda pior: o de ficar incomodada, sentir até um certo peso na consciência quando paro para assistir à TV ou ficar à toa mesmo, deitada numa rede sem fazer nada. Sinto mesmo que estou perdendo um bem precioso, e aí começo a relacionar em minha mente tudo que poderia estar fazendo para ocupar melhor este tempo.

Ontem, cheguei em casa e o Davi, que estava dormindo, acordou chorando. Reclamava de dor na garganta, dor no olho, dor na barriga. Chegou a vomitar. Eu e o Gustavo ficamos muito assustados inicialmente, mas após alguns exames e conversas com ele, intuí que aquilo tudo era mais carência do que doença propriamente dita. Então o peguei pela mão e propus que fôssemos à cozinha, onde ele me ajudaria a preparar uma sopa. Minha sopa (aliás, a receita é de minha mãe) é daquelas que inunda a casa inteira com um cheiro muito bom, e por isto mesmo eu uso quando quero animar os ânimos de alguém. Como previ, o resultado foi perfeito. Ao final do jantar, Davi estava rindo, correndo e brincando, e eu muito aliviada. Há algumas semanas estou com compromissos à noite, e não fico todas elas com ele. Creio que isto disparou um mecanismo de defesa em seu corpo. Hoje o Gustavo o levou ao médico pela manhã, só por via das dúvidas, e realmente ele não tinha nada.

E eu, aqui, desejando ter mais tempo para passar com Davi, com meu marido, mais tempo para mim, para o blog... e chego à conclusão de como é inútil esta correria de todo dia. E aí começam a brotar em mim mil indagações metafísicas: afinal, pra que tudo isto? O que irá representar isto para minha existência? Qual é a utilidade de todo este stress?

Então eu resolvi que iria por um ponto final neste dilema recorrente. E o solucionei, apenas colocando para cada coisa importante em minha vida o peso que cada uma delas tem para mim e a importância perene que têm em minha vida. E isto me fez descobrir que, sem abrir mão de meus compromissos profissionais, pessoais, maternais, vou conseguir fazer também muitas outras coisas às quais eu não me permitia, sem medo de sentir aquela sensação incômoda de estar gastando mal esse meu precioso bem.

Imagem: Cronos devorando um de seus filhos (Goya)

10 abril 2007

Blogar é perigoso

Piromaníaca da internet é condenada a dez anos de prisão em Tóquio
(Japão / abril 2007)

Egito confirma pena de quatro anos para blogueiro

Adolescente "descoberto" em blog confessa crime

(EUA)

Aposentado é acusado de difamar ex-mulher juíza pela internet

(Brasil)

Iraniano ficará 14 anos na prisão por publicações feitas em blog


É um fato quase unânime de que todo blogueiro é, no fundo, um exibicionista...
por transformar um Diário (antes um objeto íntimo, onde se registravam segredos inconfessáveis) em, literalmente, um Livro Aberto, no qual todos podem bisbilhotar, invadir e palpitar.
Bom, dizem que o ser humano não nasceu para guardar segredos. Mas é incrível como tem gente que não consegue mesmo nem segurar a boca (ou melhor, o teclado) quando comete um crime.
Como os casos acima descritos, há outros tantos crimes (até de assassinatos) cujas provas foram descobertas em blogs, isto é, pela confissão dos autores, ou por uma descrição tão minuciosa de detalhes que denunciava o culpado.
O Ser Humano é mesmo surpreendente...
Esta necessidade que temos de expor as coisas, de não conseguir se segurar...
Eu sempre fui meio o oposto disto. Sou boa pra guardar segredos. Até de mim mesma, e aí isso já é ruim. Esta inibição nascia, com toda certeza, de uma insegurança e medo de críticas muito acentuados. Mas eu sempre digo que o bom de se amadurecer é que você descobre que não é preciso, e é na verdade impossível, agradar a todos.

Por isto adoro os blogs e os blogueiros que conheço, sem nem mesmo nunca ter visto muitas das caras por trás das almas que se mostram fugazmente nas linhas e entrelinhas dos posts. Podem não ser suas almas completas, mas é uma parte delas, aquela que quis se mostrar.
Há, com certeza, milhares de blogs falsos por aí... Mas eu acredito sinceramente nos blogueiros que visito. Concordo, discordo, fico neutra. Desenvolvo simpatia, antipatia, me emociono, dou gargalhadas, desejo ser amiga (o) íntima de alguns e deixo de visitar outros por completa falta de afinidades. E desenvolvo uma relação com todos, que pode ser até unilateral, mas é inexorável.
Fico com a consciência pesada se não tenho tempo de postar (como na semana passada), nem de visitar alguns blogs que eu adoro.

Ops, em um post sobre blogueiros criminosos, acabei confessando várias facetas pessoais. É bom parar por aqui, antes que fique muito comprometedor!

30 março 2007

Uma caipira na cidade grande

Adoro ir a São Paulo. Nas poucas oportunidades que tenho de fazê-lo, geralmente em ocasiões profissionais, tento encaixar na agenda pelo menos uns 2 programas culturais, como um teatro ou uma exposição.
Lá, quando ponho os pezinhos pra fora do avião já me sinto diferente. Eu não enxergo o trânsito ruim, a poluição, a correria, nada disso. O que passa brilhando pelos meus olhos são a modernidade, a grandiosidade, a imponência, o poder dessa metrópole. É provável que os paulistanos enxerguem mais o stress do dia a dia do que as infinitas possibilidades de diversão e cultura que eu vejo... bem, a gente sempre deseja o que não tem, não é?
Minha última passagem por lá foi exclusivamente turística, para ver o show do Roger Waters. Na saída do aeroporto, a mesma sensação de sempre...

Mas houve um momento dentro das menos de 24 horas que eu permaneci na cidade em que meu olhar sofreu uma drástica mudança. Tudo começou ainda no hotel, minutos antes de sairmos para o show. Vi que algumas pessoas que contrataram a agência de turismo começaram a reclamar que não havia ingressos suficientes. Algumas pessoas haviam pagado por um lugar mais próximo ao palco, mas receberam ingressos dois ou três setores atrás. Um médico com sua filha adolescente tinham recebido ingressos para cadeiras em lados completamente opostos, fora do que havia sido combinado.

Já na entrada do Morumbi, reparei na malandragem de alguns cambistas, que paravam a gente pra tentar trocar ingressos. Um deles propôs que trocássemos os nossos ingressos + R$50,00 por cadeiras no Setor Laranja, que eram melhores. Mas como me lembrava da posição dos setores no mapa, sabia que ele estava blefando, já que as cadeiras laranjas eram localizadas na arquibancada, bem longe do palco, e as nossas no gramado.

Já que não tinha idéia de como iria estar a situação dentro do estádio, o médico aceitou trocar seus dois ingressos de cadeiras no gramado e dar R$100,00 a um segurança em troca de um lugar onde ele pudesse ficar próximo a sua filha. O Segurança imediatamente entregou-lhes pulseirinhas de identificação, conduzindo-os pelos corredores internos do estádio até o mesmo setor onde eles tinham as cadeiras. Só que eles teriam que ficar em pé todo o show. Todo o corredor entre as cadeiras do gramado ficou repleto de pessoas em pé que ninguém sabia de onde haviam vindo, já que foram vendidos apenas ingressos para lugares sentados. Percebi que era um esquema muito organizado dos seguranças para lucrar centenas de ingressos “não oficiais”.

Lá fora, apesar da noite linda e da previsão do tempo ter indicado ausência de chuvas, muitas pessoas vendiam capas de chuva para o público. Quando se atravessava o portão de acesso ao campo, havia vários jovens distribuindo gratuitamente as mesmíssimas capas.

Dentro do estádio, a venda de bebidas alcoólicas estava proibida. Mas havia um sujeito parado na ponta do gramado vendendo, despreocupado, cada latinha de cerveja (quente) a R$7,00.

Todo este comércio paralelo e quase sempre ilícito me saltou aos olhos.

De volta pra casa, em meus pensamentos não havia a civilização, mas a selva. E nesta Selva de Pedra, cada criatura se defende como pode e com as armas que tem.

25 março 2007

O Porco fala